23- Um amigo papa-figo

           Hoje eu fui à missa com minha esposa. Estava de mente limpa e coração puro, até o padre começar sua pregação. Como foi infeliz! Falar que educamos nossos filhos de forma errada, sujeitos ao sexo, às bebidas e às drogas, venerando a luxúria e a carne.  Poxa! Que experiência tem este cidadão em falar sobre criação de filhos? O que ele sabe do dia a dia entre pais e filhos? Das individualidades? Das incertezas? Da vontade de experimentar o desconhecido? Dos hormônios circulando? Nada! Só o que lê ou o que falam para ele.
         Mudou de assunto. Ainda bem, porque já estava quase pegando o microfone. Começou a falar sobre “Se dar”, “Doar” ao próximo. Até pensei que estava falando em fazer alguma coisa boa para alguém, mas não. Estava se referindo em dar dinheiro, em doar o que ganha, porque o que importa é o Reino Divino. Estar dentro de uma Igreja, vendo o seu representante falar aquilo, foi demais. Sei que esta posição é comum na maioria das seitas, mas não aguento.
         Para poder falar em doar, precisa existir um exemplo de doação. Para doar precisa ter aquisição, portanto, utilizando dados do site (Sola Scriptura), vou discutir um pouco como a Igreja Católica adquiriu o que possui, porque a fortuna acumulada pelo Vaticano não veio em um pote de maná. Veio, principalmente, da venda de relíquias, como pedaços da cruz de Jesus Cristo, negociando indulgências de pecados, amedrontando os fiéis com o fogo do purgatório, rezando missas pagas e doações de terras na esperança de vaga no paraíso. Em 1410, o papa João XXIII cobrava impostos dos prostíbulos contabilizando-os no orçamento do Vaticano. Segundo Döllinger, no livro “O papa e Concílio”, o papa Leão X, no ano 1518, com o objetivo de restaurar a igreja de São Pedro que rachava, usou cofres com dizeres absurdos tais como: "Ao som de cada moeda que cai neste cofre uma alma desprega do purgatório e voa para o paraíso!"
         Como podemos observar, além das vendas de relíquias, outra grande peça no enriquecimento da Igreja foi e é o medo do purgatório, e só com esse expediente a Igreja Católica recolhe por dia, em todo o mundo, muito dinheiro. O interessante é que o purgatório não existia no início do cristianismo, a ideia do purgatório, segundo o Centro Apologético Cristão de Pesquisas (CACP), teve suas raízes no budismo e em outros sistemas religiosos da antiguidade. Foi com o papa Gregório I adicionado o conceito de fogo purificador ao lugar entre o céu e o inferno, para onde eram enviadas as almas daqueles que não eram tão maus, a ponto de merecerem o inferno, mas também não eram tão bons, a ponto de merecerem o céu. Assim surgiu a crença de que o fogo do purgatório tem poder de purificar a alma dos seus pecados. Por meio de um decreto do papa Sisto IV (1471-1484), o purgatório começou a ser comercializado, se tornando um dos maiores oportunismos religiosos. Agora a Igreja possui um ótimo negócio, o "comércio espiritual", a "galinha dos ovos de ouro da Igreja", passando a ser a única instituição no mundo que negocia com as almas dos homens. Com esse dogma a Igreja peca duas vezes e cria um problema de consciência para os padres: primeiro por oficializar uma inverdade, segundo por receber dinheiro em nome dessa inverdade.
         Mas o ato de tirar bens de seus fiéis não é exclusivo da Igreja Católica, muito pelo contrário, o comércio em seitas ditas “evangélicas” é muito comum e descarada. Em um simples vídeo no youtube encontrei um pastor da Igreja Mundial de Deus cobrando trízimo (???????). Este pastor fala: “Você vai dizer para Deus: Senhor, 70% de tudo que me der neste mês de dezembro é meu e 30% de tua obra, do grande projeto... com os 70% que vai ficar com você, você vai fazer coisas que nunca fez na sua vida”. Em outro vídeo encontrei um pastor vendendo 100 gramas de cimento para o fiel conseguir ter a sua casa própria. Em outro vídeo encontrei um pastor vendendo água benta por valores que partiam de R$ 100,00 até R$ 1.000,00 e dizia que, com apenas uma gota desta água, você pode restaurar a sua vida. Interessante é que o pastor que cobra o trízimo escolheu o mês de dezembro justamente por ter o 13º salário embutido, e o pior, os fiéis, as ovelhas, “cegos” pela fé, acreditam e doam. Eu posso estar enganado, mas acho que estas ações vão contra o que pregava Jesus, porque ele expulsou os vendedores e cambistas do templo, por fazerem negócios na casa de Deus e disse: “A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões” (Mateus 21: 12-13).
         Segundo o jornal Estado de São Paulo (25-2-80) “A Igreja no Brasil tem um vultoso patrimônio Imobiliário” recebido por doações sem explicações de como ocorreram, fato observável em todo o mundo, geralmente conseguindo legados e doações de beatos e viúvas chorosas buscando "absolvição". Segundo Ernesto Oliveira, no livro “Roma, a Igreja e o Anticristo”, “O Clero se diz pastores, mas o que são é roubadores, não satisfeito com a lã das ovelhas bebem seu sangue!". O centro da religiosidade cristã, o Vaticano é a corte mais suntuosa da Europa, já não se preocupa com migalhas, aplicam os proventos desse comércio espiritual de tal forma que possuem bancos próprios, edifícios e fazendas.
         Para finalizar, e retornando à missa que participei, pode-se notar a tendência das religiões atuais nos mesmos moldes históricos. Hoje, a Igreja faz a sua opção pelos pobres, lutando para distribuir as riquezas dos outros sem tocar nas suas. Lembro do meu pai que sempre falava quando alguém se aproveitava de outro: “Você é um amigo papa-figo. Come o seu consigo e depois vem comer o meu comigo, né?”.

Edson Perrone

Döllinger, J. J. I. Von. O Papa e o Concílio. Londrina, Editora Leopoldo Machado. 2002.
Ernesto, L. de O. Roma, a Igreja e o Anticristo. Apostila do Pr. Lauro de Barros Campos. Campinas, São Paulo. Jornal o Estado de São Paulo. Noticiários de Periódicos e Textos da Bíblia Sagrada.

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