Acordei,
tomei meu café e abri o jornal. Passando as folhas de trás para frente, como
sempre faço, me deparei com a página com horóscopos do dia. Sem perceber, já
havia lido o meu, que é leão, entretanto, percebi que o de câncer era melhor e
o adotei.
É muito
interessante o comportamento de determinados indivíduos quanto às previsões.
Quanto ao horóscopo, eu não sabia quanto. Fiz uma pesquisa de opinião com meus
alunos, obtendo um resultado interessante. Montei um questionário com base nas
previsões de Handoor Maguiles, um pesquisador, teólogo, matemático e astrólogo,
do Instituto de Ciências Avançadas de Monte Paloar, mantido com verbas dos EUA
e Europa (Itália, Inglaterra, França, Espanha, Holanda, Bélgica e Alemanha). As
previsões foram organizadas como um horóscopo diário para cada signo do
zodíaco, sendo 6 signos com as previsões corretas e 6 signos com as previsões
trocadas de forma aleatória (exemplo: a previsão de leão em virgem...). Cada
pessoa pesquisada tinha que ler o horóscopo de seu signo e marcar se concordava
totalmente, parcialmente ou discordava.
Analisando
as previsões corretas, portanto, a previsão estava no signo certo (barra branca
no gráfico), os resultados foram interessantes: 33% concordavam totalmente, 36%
concordavam parcialmente e 31% discordavam das previsões. Quando analisei os
resultados daqueles onde o horóscopo estava trocado (barra listrada no
gráfico), 31% concordavam totalmente, 40% concordavam parcialmente e 29%
discordavam. Portanto, sem qualquer diferença estatística significativa,
permitindo eu concluir que fiz bem em trocar o meu horóscopo do dia. É bom
registrar que os dados sobre o pesquisador e o Instituto citados foram
inventados para dar mais importância à pesquisa e o horóscopo tirado de um jornal
local, fato que não modifica o resultado.
Por
alguns dias continuei lendo os horóscopos diários e vi que não mudavam nada,
parece que tiravam a previsão de um signo e colocavam no outro. Podemos
concluir que a pessoa interpreta o que lê do jeito que quer, bastando a leitura
ser metafórica. Alguns podem até deixar de sair de casa com medo do que pode
acontecer e outros até passam a se arriscar mais, já que estão resguardados por
estas previsões.
Antes
da copa do mundo de 2002, eu assisti na televisão várias pessoas fazendo
previsões do que iria acontecer na copa. Pensei, vou fazer as previsões para
2003 e escrever em um papel e selar, utilizando mais de 30 alunos do segundo
ano do ensino médio como testemunhas. Fiz. Fiquei com uma cópia e entreguei uma
cópia para representantes dos alunos. No ano seguinte estes alunos estavam na
minha sala do terceiro ano e no final do ano abrimos os envelopes. Das quatro
previsões que fiz, acertei 3 totalmente e 1 errei. Acertei que iria ter uma
grande enchente no início do ano com catástrofes; um artista importante iria
morrer; uma disputa entre nações iria acontecer. Errei prevendo que o botafogo
seria campeão (esse foi por brincadeira). Os alunos ficaram espantados, me
senti o verdadeiro Nostradamus. Mas eu só usei o óbvio, o que acontece todo ano
e escrevi de forma metafórica, portanto, tinha que acertar. Se tivesse errado,
esquecia o assunto.
A espécie humana sempre acredita em alguma previsão, principalmente que alguma coisa “do
mal” vai acontecer. Estamos sempre “em guarda” para o pior. Este fato deve
estar relacionado à preservação da vida como um instinto primário de
sobrevivência, comum em todos os animais. Acredita-se que a cada final de
século e início do outro ocorre certa histeria coletiva. Tenho certeza que você
já escutou alguma previsão sobre o fim do mundo. Na passagem do ano 999 para o
ano 1.000 houve pânico e suicídios, mas o dia surgiu.
Depois
de muito tempo uma suposta profecia, atribuída a Michel de Nostradamus, sobressaltou
novamente os crédulos: “De 1000 passarás,
mas em 2000 não chegarás” e, da mesma forma, o Sol nasceu no primeiro dia
do ano que não chegaria. Como várias pessoas tinham certeza que o mundo ia
acabar, devem ter ficado desapontadas com a continuidade da vida enquanto
outros festejavam. Os indivíduos interessados na perpetuação da crença no fim
do mundo logo arranjaram uma desculpa: ocorreu erro de contagem e o fim do
mundo seria no ano seguinte e mais uma vez o ano passou e nada sucedeu. A Terra
continuava a girar como sempre, viva como nunca, apesar das explicações dos
místicos. A profecia do Milênio acabou, por fim, desacreditada e desmoralizada,
e os homens voltaram ao ritmo normal da vida.
Até
fatos simples tiveram grande repercussões, lembra-se do suicídio em massa dos
seguidores da seita “Heaven’s Gate” (O portal dos céus) durante a passagem do
cometa Hale-Bopp em 1977? A passagem do cometa Halley próximo da Terra, em
1910, levou várias pessoas a acreditarem que seria o fim do mundo, registrando
na época, um aumento do número de suicídios devido ao medo do fato ocorrer. Eu
nunca entendi o fato de pessoas se matarem porque estão com medo de morrer.
Muito estranho!
Entre
tantas previsões de catástrofes que poderiam destruir a Terra, lembro-me de um
fato que circulou com certa frequência na mídia da época. Acreditava-se que, em
agosto de 1999, o céu amanheceria sombrio por uma anomalia magnética que iria
sugar todo o oxigênio da Terra e, com a perda de peso, a Terra seria atirada
sobre o Sol, dizimando toda a vida. Garanto que muita gente esperou com certa
ansiedade para passar o mês de agosto e chegar o mês de setembro, e estamos
aqui.
Parece
que o mês de agosto é ideal para ocorrer catástrofes. Grandes mudanças estavam
sendo anunciadas para este mês em 2010, com o fim de um modelo de civilização e
o início de um novo. A internet estava cheia de pessimistas esperando o momento
da grande mudança. Estes acreditavam que nesta época, precisamente no final de
julho e início de agosto de 2010, iria ocorrer um grande alinhamento de
planetas (Urano, Júpiter, Saturno e Marte), que poderia intervir seriamente no
destino da Terra e na humanidade. Bem, como esperado, passou o mês de agosto de
2010, o mês de agosto de 2011 e estamos aqui, da mesma forma, aguardando um
novo alarme para uma nova catástrofe.
Agora
estamos aguardando o fim dos dias conforme o calendário maia. Entretanto, nos
poucos dados deixados pelos maias não existem abordagens sobre a destruição da
Terra, simplesmente chega-se ao final de um calendário utilizado por eles para
vários fins. Segundo David Morrison, do Instituto de Astrobiologia da Nasa, o
mundo não vai acabar no dia 21 de dezembro de 2012 como dizem os pessimistas
que creditam aos maias a previsão, entretanto, a possibilidade de ocorrer uma
catástrofe existe, seja ela hoje, amanhã ou daqui a milhões de anos. Como
exemplo de Catastrofismo, segundo Aaron Dar, do Instituto de Pesquisa Espacial
Technion de Israel, uma estrela, como o Sol, com uma enorme massa, no seu fim
da vida entrará em colapso formando um buraco negro, liberando uma onda de
radiação destrutiva que eliminará tudo o que estiver no seu caminho, inclusive
a Terra. Mas antes de entrarmos em pânico, os cosmólogos, de uma forma geral,
afirmam que o nosso Sistema Solar estará estável, no mínimo, nos próximos 40
milhões de anos.
Toda
civilização possui previsões de catástrofes, inclusive a nossa, já que existe
uma parte especial na Bíblia sobre este assunto, o apocalipse. Existem até
aqueles que acreditam no dia do arrebatamento, quando em determinado momento algumas pessoas
desaparecerão, sendo salvas pelo Divino. Ainda bem que a época que vai
acontecer o apocalipse não foi divulgada, mostrando a esperteza de quem
elaborou a Bíblia. Esta esperteza de não marcar a data evita o
descrédito e fomenta a espera que pode ser longa, ou se acontecer um acidente
de percurso, podem dizer “Não falei que iria acontecer!” e, mesmo na eminência
da morte, ficarão felizes por terem acertado a previsão.
Edson Perrone
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