26- O final dos tempos

        

Acordei, tomei meu café e abri o jornal. Passando as folhas de trás para frente, como sempre faço, me deparei com a página com horóscopos do dia. Sem perceber, já havia lido o meu, que é leão, entretanto, percebi que o de câncer era melhor e o adotei.
         É muito interessante o comportamento de determinados indivíduos quanto às previsões. Quanto ao horóscopo, eu não sabia quanto. Fiz uma pesquisa de opinião com meus alunos, obtendo um resultado interessante. Montei um questionário com base nas previsões de Handoor Maguiles, um pesquisador, teólogo, matemático e astrólogo, do Instituto de Ciências Avançadas de Monte Paloar, mantido com verbas dos EUA e Europa (Itália, Inglaterra, França, Espanha, Holanda, Bélgica e Alemanha). As previsões foram organizadas como um horóscopo diário para cada signo do zodíaco, sendo 6 signos com as previsões corretas e 6 signos com as previsões trocadas de forma aleatória (exemplo: a previsão de leão em virgem...). Cada pessoa pesquisada tinha que ler o horóscopo de seu signo e marcar se concordava totalmente, parcialmente ou discordava.
         Analisando as previsões corretas, portanto, a previsão estava no signo certo (barra branca no gráfico), os resultados foram interessantes: 33% concordavam totalmente, 36% concordavam parcialmente e 31% discordavam das previsões. Quando analisei os resultados daqueles onde o horóscopo estava trocado (barra listrada no gráfico), 31% concordavam totalmente, 40% concordavam parcialmente e 29% discordavam. Portanto, sem qualquer diferença estatística significativa, permitindo eu concluir que fiz bem em trocar o meu horóscopo do dia. É bom registrar que os dados sobre o pesquisador e o Instituto citados foram inventados para dar mais importância à pesquisa e o horóscopo tirado de um jornal local, fato que não modifica o resultado.

         Por alguns dias continuei lendo os horóscopos diários e vi que não mudavam nada, parece que tiravam a previsão de um signo e colocavam no outro. Podemos concluir que a pessoa interpreta o que lê do jeito que quer, bastando a leitura ser metafórica. Alguns podem até deixar de sair de casa com medo do que pode acontecer e outros até passam a se arriscar mais, já que estão resguardados por estas previsões.
         Antes da copa do mundo de 2002, eu assisti na televisão várias pessoas fazendo previsões do que iria acontecer na copa. Pensei, vou fazer as previsões para 2003 e escrever em um papel e selar, utilizando mais de 30 alunos do segundo ano do ensino médio como testemunhas. Fiz. Fiquei com uma cópia e entreguei uma cópia para representantes dos alunos. No ano seguinte estes alunos estavam na minha sala do terceiro ano e no final do ano abrimos os envelopes. Das quatro previsões que fiz, acertei 3 totalmente e 1 errei. Acertei que iria ter uma grande enchente no início do ano com catástrofes; um artista importante iria morrer; uma disputa entre nações iria acontecer. Errei prevendo que o botafogo seria campeão (esse foi por brincadeira). Os alunos ficaram espantados, me senti o verdadeiro Nostradamus. Mas eu só usei o óbvio, o que acontece todo ano e escrevi de forma metafórica, portanto, tinha que acertar. Se tivesse errado, esquecia o assunto.
         A espécie humana sempre acredita em alguma previsão, principalmente que alguma coisa “do mal” vai acontecer. Estamos sempre “em guarda” para o pior. Este fato deve estar relacionado à preservação da vida como um instinto primário de sobrevivência, comum em todos os animais. Acredita-se que a cada final de século e início do outro ocorre certa histeria coletiva. Tenho certeza que você já escutou alguma previsão sobre o fim do mundo. Na passagem do ano 999 para o ano 1.000 houve pânico e suicídios, mas o dia surgiu.
         Depois de muito tempo uma suposta profecia, atribuída a Michel de Nostradamus, sobressaltou novamente os crédulos: “De 1000 passarás, mas em 2000 não chegarás” e, da mesma forma, o Sol nasceu no primeiro dia do ano que não chegaria. Como várias pessoas tinham certeza que o mundo ia acabar, devem ter ficado desapontadas com a continuidade da vida enquanto outros festejavam. Os indivíduos interessados na perpetuação da crença no fim do mundo logo arranjaram uma desculpa: ocorreu erro de contagem e o fim do mundo seria no ano seguinte e mais uma vez o ano passou e nada sucedeu. A Terra continuava a girar como sempre, viva como nunca, apesar das explicações dos místicos. A profecia do Milênio acabou, por fim, desacreditada e desmoralizada, e os homens voltaram ao ritmo normal da vida.
         Até fatos simples tiveram grande repercussões, lembra-se do suicídio em massa dos seguidores da seita “Heaven’s Gate” (O portal dos céus) durante a passagem do cometa Hale-Bopp em 1977? A passagem do cometa Halley próximo da Terra, em 1910, levou várias pessoas a acreditarem que seria o fim do mundo, registrando na época, um aumento do número de suicídios devido ao medo do fato ocorrer. Eu nunca entendi o fato de pessoas se matarem porque estão com medo de morrer. Muito estranho!
         Entre tantas previsões de catástrofes que poderiam destruir a Terra, lembro-me de um fato que circulou com certa frequência na mídia da época. Acreditava-se que, em agosto de 1999, o céu amanheceria sombrio por uma anomalia magnética que iria sugar todo o oxigênio da Terra e, com a perda de peso, a Terra seria atirada sobre o Sol, dizimando toda a vida. Garanto que muita gente esperou com certa ansiedade para passar o mês de agosto e chegar o mês de setembro, e estamos aqui.
         Parece que o mês de agosto é ideal para ocorrer catástrofes. Grandes mudanças estavam sendo anunciadas para este mês em 2010, com o fim de um modelo de civilização e o início de um novo. A internet estava cheia de pessimistas esperando o momento da grande mudança. Estes acreditavam que nesta época, precisamente no final de julho e início de agosto de 2010, iria ocorrer um grande alinhamento de planetas (Urano, Júpiter, Saturno e Marte), que poderia intervir seriamente no destino da Terra e na humanidade. Bem, como esperado, passou o mês de agosto de 2010, o mês de agosto de 2011 e estamos aqui, da mesma forma, aguardando um novo alarme para uma nova catástrofe.
         Agora estamos aguardando o fim dos dias conforme o calendário maia. Entretanto, nos poucos dados deixados pelos maias não existem abordagens sobre a destruição da Terra, simplesmente chega-se ao final de um calendário utilizado por eles para vários fins. Segundo David Morrison, do Instituto de Astrobiologia da Nasa, o mundo não vai acabar no dia 21 de dezembro de 2012 como dizem os pessimistas que creditam aos maias a previsão, entretanto, a possibilidade de ocorrer uma catástrofe existe, seja ela hoje, amanhã ou daqui a milhões de anos. Como exemplo de Catastrofismo, segundo Aaron Dar, do Instituto de Pesquisa Espacial Technion de Israel, uma estrela, como o Sol, com uma enorme massa, no seu fim da vida entrará em colapso formando um buraco negro, liberando uma onda de radiação destrutiva que eliminará tudo o que estiver no seu caminho, inclusive a Terra. Mas antes de entrarmos em pânico, os cosmólogos, de uma forma geral, afirmam que o nosso Sistema Solar estará estável, no mínimo, nos próximos 40 milhões de anos.
         Toda civilização possui previsões de catástrofes, inclusive a nossa, já que existe uma parte especial na Bíblia sobre este assunto, o apocalipse. Existem até aqueles que acreditam no dia do arrebatamento, quando em determinado momento algumas pessoas desaparecerão, sendo salvas pelo Divino. Ainda bem que a época que vai acontecer o apocalipse não foi divulgada, mostrando a esperteza de quem elaborou a Bíblia. Esta esperteza de não marcar a data evita o descrédito e fomenta a espera que pode ser longa, ou se acontecer um acidente de percurso, podem dizer “Não falei que iria acontecer!” e, mesmo na eminência da morte, ficarão felizes por terem acertado a previsão.

Edson Perrone