O ser humano é uma espécie que deu errado. Muito difícil de
entender e lidar. Acho que a receita de sua criação não foi seguida à risca,
pena que o design não observou. Este erro inicial permitiu que a criatura
saísse do controle do criador, passando a se achar acima do Divino. Mas cadê o
Criador? Não fez nada? Porque não desfez a sua obra e começou tudo de novo? Já
sei! Deus tem seus motivos! Nós não podemos questionar.
Ao contrário do que
penso e amplamente discutido neste blog, alguns religiosos acham que Deus fez
tudo certo. Criou o Universo, o nosso mundo, todos os seres, um homem e uma
mulher em um jardim que tinha tudo. Entretanto, todos concordam que o homem,
como era de se prever, fez merda! E botaram a culpa na serpente. Deus ficou
muito triste. A desculpa sempre é a mesma, o livre arbítrio.
Deus, não se deu por
derrotado, embora sua, a criatura, a única à sua imagem, tenha se mostrado com
defeitos, tentou acertar. Tentou por aproximadamente dezesseis séculos e, a
cada dia, o seu povo tornava-se pior, até que o bondoso Deus reconheceu seu
erro inicial e, para facilitar a limpeza do ambiente, mandou o dilúvio para
afogar todas as criaturas, salvos Noé, 7 pessoas de sua família e uma bicharada
só.
Ufa! Agora posso
reiniciar a vida na terra, deve ter pensado Deus. Começou diferente, com 7
pessoas e um monte de bichos. Fico imaginando, depois de 1 ano presos na arca,
sem alimentos saudáveis e água potável, como deveria ser o olhar dessas pessoas
para a galinha: –Vem cá, canja! Não é brincadeira, porque Deus disse após o
dilúvio: “Tudo quanto se move e vive vos servirá de mantimento” (Gênesis
9:3). Vocês acham que deu certo o reinício? Não!
O livre arbítrio foi
permitido e as besteiras feitas pelo homem continuaram. Que povinho difícil,
Deus deve ter pensado. Deus errou de novo. Será que o erro estava no DNA de
Noé?Chegaram a construir uma torre para chegar aqui em casa, desabafa Deus. Na
Torre de Babel, o Criador dispersou e espalhou sua criação. Não dava mais para
ficarem juntos. Deus alterou o idioma dos povos para eles não se comunicarem,
evitando, assim, novos problemas. Não usou outro dilúvio, provavelmente, para
evitar a conta de água que estava muito alta. Não adiantou muito, surgiram os
tradutores, os pecadores da língua.
Deus estava muito
triste. Pensou: –
Meu povo, não dá mais, acho melhor
escolher algumas pessoas para eu me dedicar. Escolheu Abraão e seus
descendentes. Mas que azar, logo os escolhidos foram capturados pelos egípcios
e escravizados por quatro séculos. Porque Deus, com todos os seus poderes,
permitiu? Para complicar, foi pelo caminho mais difícil, decidindo resgatá-los
do Faraó e mandá-los à Palestina em um caminho que durou 40 anos. Não podia Deus
ser mais simples?
Deus falhou
novamente. Deixou seu povo vagando no deserto por muito tempo até levá-los à
Palestina, colocando-os sob governo dos Juízes. Não demorou muito e, mesmo com
um Deus todo poderoso por trás, o seu povo foi, novamente, conquistado e levado
em cativeiro pelos babilônios. Que sina! Se eu vivesse nesta época torceria
para Deus não me escolher. Será que o Deus dos outros era mais forte? Enfim,
eles retornaram e Deus experimentou a força dos profetas, mas o povo tornava-se
cada vez pior. Nada de escolas, ciências, artes ou comércio.
Agora chega! Deve
ter pensado Deus. Eu vou resolver isso de uma vez por todas. Então Deus enviou
seu filho como a última chama de esperança e, como fazem os atuais espíritas,
encarnou em um corpo humano e passou a viver com o povo que vinha tentando
civilizar há milênios. Então este povo, os seus escolhidos, acusou este “Deus
na forma de homem” de blasfêmia, o julgaram e o mataram com muita crueldade.
Cansei de tantas
falhas! Gritou o Divino. Abandonou os judeus e passou o tempo assistindo o que
acontecia no resto do mundo, como se tivesse uma televisão digital e, mudando
de canal, observou que a novela era a mesma em todos os canais e em todas as
épocas. Pessoas com livre arbítrio, decidindo o que fazer de suas vidas, se
achando deuses e usando a sua palavra como arma de convencimento e doutrinação
para determinados objetivos que se afastavam muito do provável interesse
Divino. Eta povinho difícil!
Uma questão fica no ar: existe o livre arbítrio?
Edson Perrone
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