Sempre que comento sobre este
assunto me sinto em um filme de Indiana Jones, “Os caçadores da Arca Perdida”. Mesmo sendo base para o roteiro de
um filme de Hollywood, a Arca da Aliança é um dos mais importantes símbolos
religiosos, sendo puro e de esperança, portanto, exclusivamente ligado à fé, o
que respeito muito. Lógico que existem passagens bíblicas que compõem metáforas
que se tornam mitos e lendas nas mentes de alguns, que podem gerar múltiplas
discussões. Praticamente todas as religiões possuem uma estrutura de contato
com Deus, faz parte da natureza humana ter um objeto que faça contato com o
Divino. Só não entendo qual seria a necessidade de existir um objeto para
contato com Deus? Existem, inclusive, hipóteses da Arca da Aliança ser um
equipamento extraterrestre, mas aqui vou me reportar apenas à história.
A
Arca da Aliança é descrita na Bíblia como a estrutura que guarda objetos
sagrados que deveria funcionar como um veículo de comunicação entre Deus e seu
povo. Foi guardada pelos hebreus até seu desaparecimento, que segundo
especulações, ocorreu na conquista de Jerusalém por Nabucodonosor. Segundo o
livro de II Macabeus, o profeta Jeremias foi o responsável por escondê-la.
Segundo
o livro do Êxodo, a fabricação da Arca foi orientada por Moisés, que por
instruções divinas indicou seu tamanho e forma. No Êxodo (25:10-22) a Arca da Aliança possuia a seguinte
forma: caixa e tampa de madeira de acácia, com 2 côvados e meio de comprimento
(um metro e onze centímetros ou 111 cm), e um côvado e meio de largura e
altura (66,6 cm). Cobriu-se de ouro puro por dentro e por fora, com uma
bordadura de ouro ao redor. Sobre a tampa, chamada Propiciatório, foi esculpida
uma peça em ouro, formada por dois querubins ajoelhados de frente um para o outro,
cujas asas esticadas para frente tocavam-se na extremidade, formando um arco. Na
Arca foram guardadas as duas tábuas da lei; a vara de Aarão; e um vaso do maná.
Estes artefatos representavam a aliança de Deus com o povo de Israel e, a
partir do momento em que foram colocados no seu interior, a Arca é tratada como
um objeto sagrado, como a própria representação de Deus na Terra. Eu não
questiono a possibilidade de ter existido uma Arca, só não acredito que a lenda
esteja na dimensão correta. Da mesma forma que a Bíblia foi
escrita, a lenda deste artefato sagrado só existe porque foi passada a
história de boca a boca, com muitas alterações e modificações, ficando apenas a
fé que pode ser do tamanho que cada um quer.
Segundo
a Bíblia, a Arca tinha um poder incrível. Existiam complexos rituais para se
estar em sua presença dentro do Tabernáculo. Deus revelava-se como uma fumaça
que se manifestava com sua presença. Tocá-la era proibido, porque a pessoa
perdia a vida imediatamente. Para seu transporte, necessário para um povo ainda
nômade, foram colocadas quatro argolas de ouro nas laterais, onde foram
transpassados varas de acácia recobertas de ouro.Assim, o objeto podia ser
carregado pelo meio do povo. Como um povo que foi escravo, pobre e nômade tinha
tanto ouro?
Como
é da natureza humana, logo viram a possibilidade de usar este apetrecho como
uma arma de guerra e, com todo oseu poder, e digno das histórias bíblicas, a
Arca foi utilizada para o mal. A crença da presença Divina na Arca fez com que
os hebreus, por várias vezes, carregassem o objeto à frente de seus exércitos
nas batalhas realizadas durante a conquista de Canaã. Segundo a Bíblia, a
presença da Arca era suficiente para que pequenos contingentes hebreus
aniquilassem exércitos cananeus inteiros, mas quando dispensavam-na, sofriam
derrotas desastrosas. Então, o poder de Deus só se manifestava na presença
deste artefato? Era limitado assim? Deus ficava feliz com a morte de tanta
gente?
Seu
caráter sagrado ainda foi descrito no livro de Samuel, quando os filisteus
roubaram a Arca dos hebreus. Como consequência de sua ousadia, os filisteus
foram acometidos por diferentes punições misteriosas. Somente no reinado do rei
Salomão, a Arca foi mantida no Templo de Jerusalém construído entre 970 a.C. e
931 a.C. Com separação do povo hebreu nas tribos de Judá e Israel, a Arca seria
mais uma vez alvo da dominação estrangeira. Se Deus teve o poder de criar tudo
o que existe, fazer um dilúvio, mudar o idioma dos homens, porque permitiu que
roubassem a estrutura mais sagrada de seu povo? Parece que Deus gostava de
tumulto e confusão.
Atualmente,
há um grupo religioso etíope que diz manter a Arca escondida. Os monges da
Igreja Santa Maria de Sião teriam recebido o objeto das mãos de Menelik, filho
do Rei Salomão com a rainha de Sabá, em 950 a.C. Segundo os monges, a Arca da
Aliança permanece escondida em um templo próximo ao lago Zway. Até hoje,
ninguém foi autorizado a entrar neste templo e, finalmente, desvendar o
mistério sobre a Arca. Sinceramente, você acredita nisso? Deus tirou férias? Se
realmente existisse a tal Arca, com todo o poder da Igreja, ela já estaria no
Vaticano, mas manter o dogma é importante porque continua a esperança.
Sem
maiores comprovações, alguns arqueólogos ainda concentram suas buscas na cidade
de Jerusalém. Mesmo não sendo encontrada ou sendo uma mera invenção mítica, a
Arca tem importante valor religioso para judeus e cristãos. A sua possível
existência representa a confirmação da devoção religiosa de milhares de pessoas
espalhadas pelo mundo, da mesma forma que as pinturas tibetanas são
objetos sagrados que representam a filosofia do budismo, símbolos do despertar
e da iluminação. No
hinduísmo, o que pode representar a Arca da Aliança são animais, sobretudo a
vaca, o macaco e a serpente, que são considerados sagrados, porque neles que a
divindade costuma se manifestar. Para os índios brasileiros, a sua Arca são as
cerâmicas, as músicas, as drogas que fazem contato com seus deuses, portanto, o
conteúdo de suas cerimônias religiosas e os umbandistas encorporam seus deuses para manterem contato. Quem está certo
ou errado? Ou todos os povos possuem a sua “Arca da Aliança”, portanto, se
constituindo em uma linda lenda apresentada de forma metafórica na Bíblia?
Considerando o que foi discutido acima,
a Arca da Aliança é, até que provem o contrário, apenas mais um símbolo que é
comum em muitas religiões. Cada grupo organizado pode crer no que quiser, até nas borboletas azuis que se transformam em anjos e
duendes que são pontes de comunicação com Deus. Cada um com sua crença, cada um
no seu limite da fé.
Edson Perrone